quinta-feira, maio 31, 2007

Birigüi põe jogador na seleção infantil


O birigüiense Felipe Gustavo Lot Martins, de 12 anos, foi chamado para ser um dos integrantes da seleção brasileira de beisebol que vai disputar o Campeonato Mundial "Nanshiki" (categoria infantil), a ser realizado no período entre 26 e 30 de julho, em Tóquio, capital japonesa.

De todos os jogadores da região que participaram da seletiva feita pela CBBS (Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol) no fim de abril, em Ibiúna, somente Felipe pôde comemorar a convocação. Ele vai atuar nas posições de receptor e jardineiro externo.

"Ele tem uma técnica acima do normal para sua idade. Desde que começou, percebíamos que levava jeito para o esporte", diz o ex-técnico de Felipe, Noriyuki Matsumoto, que dirige a modalidade na cidade.

Na seletiva realizada em Ibiúna, na região de Sorocaba, cerca de 80 atletas disputaram vagas para o Mundial e o Pan-Americano da categoria infantil, marcado para o período entre 7 e 16 de setembro, na Venezuela.

Para que Felipe represente bem o País na competição, a preparação é puxada e exige muita dedicação. Com a convocação, até o campeonato ele terá de treinar em todos os fins de semana, sob a supervisão da CBBS, em Ibiúna.

"Ele treina cerca de quatro horas e meia, por aqui, em todas as terças e quintas-feiras. Já aos sábados, o treino é ainda mais puxado, chegando a durar cerca de dez horas", conta a mãe, Lia Maura Lot.

Segundo Matsumoto, o jogador se destacou, pela primeira vez, em uma partida disputada por Birigüi contra a seleção de Lins, na casa do adversário. "Ele tinha apenas oito anos", lembra o dirigente.

Em 2004, com 9 anos e titular absoluto da equipe, o atleta ajudou Birigüi a conquistar o título do Brasileiro Interclubes Pré-Infantil, disputado por 36 equipes em Londrina-PR. "Para mim, a convocação não foi surpresa, tenho certeza de que ainda ouviremos muito a respeito dele nos próximos anos", afirma seu ex-técnico.

PERSONALIDADE - Em um esporte em que a maioria dos atletas é descendente de japoneses, Felipe, sem laços raciais com o oriente, afirma não temer a concorrência. "Chegar à seleção sempre foi meu sonho e, agora que consegui, vou mostrar a todos que os brasileiros são os melhores", diz o jogador.

Quando questionado sobre o futuro, o garoto responde rápido. "Quero continuar jogando beisebol e, um dia, ser profissional", dispara.

Na manhã de sábado, 19 de abril, Felipe fez, em Marília, sua primeira apresentação à seleção. Na oportunidade, Lia Maura se informou com a confederação a respeito da documentação necessária para que ele vá para o Japão - a mãe acompanha cada passo do atleta.

As despesas com passagens aéreas, hospedagem e alimentação em território japonês não correm por conta da CBBS e serão custeadas por meio de uma rifa. "A Confederação promove a rifa e distribui números a todos os atletas convocados, que vendem os talões e arrecadam o dinheiro", explica ela.

EM BIRIGÜI - Esporte pouco praticado no Brasil, o beisebol encontra adeptos fiéis e dedicados em Birigüi. Com pouca divulgação e quase sem patrocínio, a liga local mantém equipes em diversas categorias. Os times disputam freqüentemente competições regionais, estaduais e até nacionais.

A entidade costuma revelar jogadores para as categorias de base da seleção brasileira. Como contribuição ainda maior, no âmbito social, oferece a crianças carentes da cidade e da região a oportunidade da prática esportiva.

As atividades em Birigüi são desenvolvidas no estádio de beisebol do município, que fica localizado na rua Natal Masson, no bairro Quemil. A praça esportiva pertence à Associação Nipo-Brasileira.

Lá, às terças-feiras, quintas e sábados, pessoas de várias idades, de todos os pontos da cidade, se reúnem para a prática da modalidade. Geralmente aos domingos, de forma constante, ocorrem partidas envolvendo os times locais.


EUA turbinaram o esporte, que nasceu egípcio

Antes de se chegar à forma moderna, que foi desenvolvida nos Estados Unidos, no século 19, a origem do beisebol remonta ao Egito Antigo. As partidas são jogadas por dois times de nove jogadores, que se revezam na defesa (arremessando a bola) e no ataque (rebatendo com o bastão).

A cada entrada (inning) de jogo, o time que está no ataque tenta marcar pontos e é obrigado a ir para a defesa quando tem três de seus jogadores eliminados.

O objetivo é marcar o maior número de pontos durante uma partida, que tem duração de nove entradas - em caso de empate, o jogo é prorrogado até que saia um vencedor. Um ponto é conquistado quando um jogador consegue chegar à base principal (home) após passar pela primeira, segunda e terceira bases, que estão dispostas num campo em forma de diamante.

No mundo, as principais potências do esporte são os EUA, onde os atletas tem salários milionários e status de celebridade, Japão e países latino-americanos como Cuba e Venezuela. No Brasil, é pouco praticado. As maiores forças se concentram na região metropolitana de São Paulo.


Convocação materializa sonho e orgulha família

Para a família de Felipe, que treina desde os 7 anos no estádio de beisebol da cidade, é motivo de muito orgulho poder acompanhar o garoto defendendo a seleção brasileira em um esporte que no País é pouco popular em termos globais, apesar de bastante praticado entre a colônia japonesa.

"É um sonho. Estamos muito felizes e orgulhosos dele. No começo achávamos que não ia dar certo, mas hoje vemos que ele tem futuro", afirma Lia Maura.

O birigüiense conheceu o beisebol por intermédio de um amigo, que o convidou a ir ao estádio. E acabou gostando. "Muitas crianças vêm aqui por mera curiosidade, mas, com ele, foi diferente", revela Matsumoto. "Hoje, mando-o embora para casa, depois do treino, mas ele logo volta."

O dirigente observa hiperatividade em Felipe ("ele não pára quieto"), o que, segundo ele, ajuda no desempenho esportivo do jogador.

Outra incentivadora de "Lot", como Felipe é chamado pelos colegas, é a tia Jaqueline Lot. "Ela sempre acreditou no Felipe, deu apoio, inclusive financeiramente", conta a mãe. O beisebol, lembra ela, por "necessitar de muitos acessórios", acaba se tornando um esporte "relativamente caro".

CUSTO - Lia tem razão em relção aos altos custos para a prática do beisebol, para os padrões brasileiros. Um dos principais desafios para quem gosta do esporte, segundo Matsumoto, é o custo elevado dos materiais utilizados.

Bolas, uniforme, tacos e demais apetrechos, além de caros, são encontrados apenas nos grandes centros. Em Birigüi, por exemplo, não há lojas que vendem materiais esportivos para o beisebol.

Uma bola pode custar de R$ 10 a R$ 100. Os tacos custam entre R$ 200 e R$ 800 cada. Os preços das luvas também são elevados: entre R$ 100 e R$ 500. Todos os equipamentos de proteção, como máscara, peiteira e caneleira, podem custar até US$ 1 mil.

No interior do estado, o esporte se espalhou pelas ferrovias Noroeste do Brasil, Paulista e Sorocabana, nas colônias de imigrantes japoneses criadas às margens dessas estradas de ferro. Atualmente, cidades da região como Araçatuba, Aliança, Pereira Barreto e Mirandópolis contam com equipes de beisebol atuantes.

Fonte: Jornal Folha da Região
Data: 30/06/2007
Foto: Yago Monteiro