Não é preciso sair do chão para viver a emoção de voar. O aeromodelismo, um esporte que ganha cada vez mais adeptos na região, é uma prova disso. Em Birigüi, o esporte está crescendo, tanto em número de interessados quanto na qualidade dos atletas que praticam a modalidade.
O auxiliar administrativo Luiz Augusto Bulgarão, 29, é um bom exemplo. Ele ficou em segundo lugar na categoria acrobacia intermediária da segunda etapa do CIPA (Campeonato do Interior Paulista de Aeromodelismo), que foi realizado no semestre passado, em Presidente Prudente.
Segundo ele, o campeonato tem o objetivo de divulgar o esporte e reunir os adeptos do aeromodelismo do interior do Estado. "Participar desses campeonatos é uma satisfação imensa. A cada campeonato disputado eu aprendo mais e tenho vontade de continuar praticando", afirmou. Bulgarão começou a praticar o aeromodelismo apenas como um passa-tempo. Mas decidiu participa do CIPA na edição de 2002 e, desde então, acumula diversos troféus. "Ainda não tenho um troféu de primeiro lugar porque o nível de quem participa é excelente, mas vou chegar lá".
No campeonato, o objetivo é realizar num tempo padrão pré-determinado, uma gama de manobras com o aeromodelo, que é observado por três juízes que avaliam a perfeição e regularidade dos desenhos das manobras, partida do motor, decolagem e pouso.
Uma das modalidades do aeromodelismo é o VCC (Vôo Circular Controlado). O objetivo é fazer com que um modelo de avião voe preso, normalmente por cabos de aço com um comprimento que pode chegar até 21 metros. "Podem existir modelos com outros tipos de cabo também", afirma Bulgarão. O piloto controla o aeromodelo por meio desses cabos que, por sua vez, estão ligados a uma manete utilizada pelo piloto para manobrar o aeromodelo. Com essa peça, ele pode fazer com que o avião suba e desça simplesmente movendo a manete na direção correta. Os aeromodelos controlados por cabo possuem motores de 2 ou 4 tempos e são movidos a combustível "glow" (mistura de metanol, nitro metano e óleo de rícino). Os modelos dedicados à competição de velocidade atingem mais de 30000 RPM e desenvolvem velocidades superiores a 300 quilômetros por hora.
Os modelos são geralmente construídos pelos próprios pilotos. "Essa é uma etapa do desenvolvimento do esporte que é muito prazerosa, principalmente quando se vê o resultado final do trabalho, quando um modelo que você mesmo construíu levanta vôo”, ressalta Bulgarão. Para a confecção dos modelos é utilizada madeira balsa equatoriana, que é leve, cola cianocrilato e adesivo epóxi. Depois de prontos, os modelos recebem pintura ou revestimento com filme plástico termo adesivo nas cores de preferência de cada aeromodelista. "Hoje estão disponíveis no mercado modelos ARF (Almost Ready to Fly), que significa "Quase Pronto para Voar". Eles são ótimos para os principiantes que ainda não dominam as técnicas de construção dos modelos", disse.
O preço de um aeromodelo varia de R$ 450 (iniciantes) até R$ 2 mil, sendo as melhores peças importadas dos Estados Unidos. No aeromodelismo, o que vale é a habilidade do piloto e a qualidade do motor.
O INÍCIO - A paixão por aviões levou três moradores de Birigüi à prática do aeromodelismo. O praticante mais antigo da equipe é o gerente de produção Alfredo Bergamaschi, que iniciou suas aulas, em 1989, com um amigo. "Eu tinha 19 anos quando o Renato Colnodo, que já praticava, começou a me ensinar o Vôo Circular Controlado". Segundo Bergamaschi, Colnodo conhecia uma loja em Presidente Prudente que vendia aeromodelos. "Na época comprei um aviãozinho para iniciantes, com um motor pequeno e um galão para combustível e o Renato começou a me ensinar. Praticávamos em um campinho de futebol", afirma.
Com o passar dos anos, o número de adeptos do aeromodelismo cresceu em Birigüi e os vôos começaram a ficar mais freqüentes na cidade. Outras modalidades, como o rádio controle, caíram no gosto dos moradores que praticavam e se divertiam no aeroclube do município. "Quando eu comecei, fiquei sabendo que outras pessoas já haviam praticado esse tipo de esporte, mas me disseram que há mais ou menos 20 anos ninguém mais fazia nada por aqui", contou.
Entre os novos praticantes do esporte estava Bulgarão, que pratica o VCC (Vôo Circular Controlado) desde os 14 anos de idade. "Meu pai me levava, com 5 ou 6 anos, até o aeroclube para que eu pudesse ver o pessoal voando e praticando", conta. "Com 14 anos comprei o meu primeiro avião e ele começou a me ensinar o VCC", explica.
Com incentivo dos amigos, o garoto continuou praticando. "Hoje eu faço por amor e é uma realização pessoal. Quando vejo aquele aviãozinho levantando vôo, durante aqueles seis minutos, que é o tempo que dura o vôo, eu literalmente esqueço de tudo, é como se fosse uma terapia", afirma Bulgarão. O faturista Danilo de Souza também faz parte da equipe como auxiliar e mecânico.
DIFICULDADES - Como em todo esporte, as dificuldades existem, e são maiores quando há poucos adeptos da modalidade no município. Para os três praticantes do VCC, a maior delas é não ter um local para treinar e poder aperfeiçoar cada manobra. "Sabemos que é um esporte perigoso, acidentes podem acontecer, ainda mais porque o avião voa a cerca de 300 quilômetros por hora. Por isso precisávamos de um local próprio para praticar", afirmou Bulgarão.
Atualmente a equipe treina no aeroclube da cidade, mas para conseguir o espaço foi difícil. "Nós conseguimos depois de muito insistir. Agora que o aeroclube foi desativado, os treinos têm acontecido com mais freqüência", afirmou Bergamaschi. "Temos as barreiras geográficas e financeiras para o esporte. Aos poucos estamos tentando quebrá-las, mas não é tão fácil assim", completou Bulgarão. Segundo a equipe, as únicas cidades que possuem espaços adequados são São José do Rio Preto e Bauru.
HISTÓRIA - Não há dados históricos precisos, mas os aeromodelistas afirmam que em 1936 já existia no Brasil uma loja situada a Rua Direita, em São Paulo, que vendia material de aeromodelismo, a "Casa Sloper".
Os kits de aeromodelos, trazidos dos estados Unidos também começaram a ser vendidos no país em 1941 pela firma Almeida & Veiga. Com a chegada dos aeromodelos e com o aumento dos interessados pelo esporte, foi realizado o primeiro Campeonato Paulista de Aeromodelismo, no Campo de Marte, em São Paulo, no dia 19 de julho de 1942.
Os primeiros modelos brasileiros: "Aspirante" e "Pernilongo" foram criados em 1943 por Afonso Arantes. Os modelos "Gavião" e "Extraviador 1000" foram desenhados depois de algum tempo, por H. Miaoka e o "Cometa" foi desenhado por L. Giraldelli.
Na época, o campo usado para a prática do esporte ficava na avenida Rebouças, esquina com a rua Iguatemi, hoje Faria Lima, na capital paulista. O primeiro clube formado pelos aeromodelistas brasileiros era chamado "Parafuso". O segundo clube, chamado de "Cai-Cai", foi criado em 1947.
Por volta de 1956, os aeromodelistas passaram a voar na Base Aérea de Cumbica, um local específico para a prática do esporte. Em 1959 com a ABA (Associação Brasileira de Aeromodelismo), já fundada, surgiram eventos importantes como o I Campeonato Brasileiro de Aeromodelismo e a participação de brasileiros no I Campeonato Sul-Americano, tendo como vencedor nas categorias planadores A2 e motor FAI, Paulo Marques.
Com a prática aumentando e os adeptos crescendo, outros clubes foram sendo criados como, por exemplo, o "Aerobu", um clube de vôo livre.
O primeiro brasileiro a participar de um Campeonato Mundial de motor FAI, foi Eolo Carlini, em 1975. Ele se classificou na modalidade "fly-off", entre os melhores do mundo. Em 1987, graças aos esforços de Walter Nutini, o aeromodelismo foi reconhecido como esporte no Brasil. E com isso, em 1996, a delegação brasileira de aeromodelismo Vôo Circular Controlado conseguiu o 6º lugar no Campeonato Mundial da Suécia e novamente em 1998, desta vez na Ucrânia.
Segundo os aeromodelistas, a melhor forma de começar a praticar o esporte é procurar aeromodelistas mais antigos, que podem ensinar e dar as primeiras dicas. O iniciante deve comprar um modelo simples, fácil de manusear e mais barato.
Fonte> Folha da Região
Data: 05/08/2007
Foto: Alexandre Souza